Ela disse que precisava de autorização até para “estreitar laços” com estrangeiros |
Para a médica cubana Ramona Rodriguez, o
Mais Médicos não resolve o problema da saúde pública do país, pois
falta estrutura nos hospitais e postos de saúde para onde os
profissionais estrangeiros foram enviados. A médica, que deixou o
programa no último sábado (1º) disse que Pacajá (PA), para onde foi
enviada, não tinha instrumentos e os remédios necessários para atender a
população de forma adequada.
“É preciso medicação, instrumentos. Isso
faltava, o que dificultava muito o nosso trabalho”, afirmou ao G1 nesta
quinta-feira (6).
Ramona Matos Rodriguez abandonou o
programa Mais Médicos ao perceber que os profissionais de outros países
recebiam salário de R$ 10 mil, enquanto a remuneração dos cubanos era de
US$ 400. Outros US$ 600 eram depositados em contas de Cuba para serem
entregues aos médicos somente após o término do contrato.
Ela criticou o formato do programa.
“Acho que Brasil precisa de mais médicos, mas só isso não basta. Tem que
ter infraestrutura que permita ao profissional da saúde fazer o
atendimento. Não é só com a palavra, com as mãos, que se pode curar o
outro”, disse.
A médica disse que decidiu abandonar o
programa por se sentir “enganada”. Em entrevista à imprensa, disse que
só pôde ler o contrato e saber do salário alguns dias antes de embarcar.
Em Cuba, porém, o governo cubano já havia divulgado a intenção do
Brasil de contratar médicos estrangeiros desde novembro de 2012. No
Brasil, o governo brasileiro lançou oficialmente o programa em setembro.
Falta de liberdade
Ramona também relatou as restrições de
liberdade que tinha na cidade de Pacajá. Todos os seus passos tinham que
ser relatados a um supervisor cubano do programa, que mora em Belém.
Ela precisava de autorização para
almoçar ou passear em outras cidades, ainda que no mesmo estado, e tinha
que comunicar qualquer “relação mais séria” com brasileiros ou
estrangeiros.
“O governo cubano mandava não falar,
manter a privacidade, não divulgar nada do contrato para outras pessoas.
O representante tinha que nos controlar, saber onde vamos, o que
fazemos, com quem nos relacionamos”, afirmou.
A médica explicou que, se desejasse sair
de Pacajá, ainda que por uma tarde, comunicava a uma supervisora que
morava na mesma casa, que, por sua vez, enviava um e-mail ao chefe — o
supervisor mais graduado, de Belém. A saída só era liberada quando
chegava a autorização por meio eletrônico.
Uma das cláusulas do contrato assinado
por ela para vir ao Brasil diz que, em caso de casamento com
estrangeiro, o intercambista cubano se submete à legislação de Cuba, não
se isentando do cumprimento das obrigações do acordo, a não ser por
autorização da Missão Médica Cubana no Brasil, que monitora os médicos
da ilha no país.
“Namoro e amigos tinha que ser relatado.
Se você, por exemplo, vai sair para outra cidade, tem que avisar.
Poderíamos conversar com brasileiros, mas qualquer relação mais séria
teria que ser informado previamente a eles, para que enviassem
orientações.”
Família
A médica afirma ainda que teme pela
segurança e bem estar da família, que ainda mora em Cuba. Ela tem uma
filha, que também é médica, uma neta de dois anos, uma irmã e um irmão.
Ramona é médica há 27 anos e tinha um consultório médico em Havana.
Recebia do Estado o equivalente a US$ 36 por mês e morava em um
apartamento “fornecido pelo governo de Cuba”.
Ao deixar o país, a médica pediu que a
irmã ficasse no apartamento. Segundo Ramona, ao saber que ela havia
deixado o programa Mais Médicos, a Saúde Pública Cubana, órgão que
regula a atuação dos médicos em Cuba, ordenou que o apartamento fosse
desocupado.
“Eles determinaram que ela deixasse a
casa e tirasse as coisas de lá”, disse. Ramona afirmou que a família
“por enquanto” não recebeu ameaças do governo cubano. “Estou ligando
todos os dias para checar. Como eu sou uma traidora da pátria não vou
poder voltar nunca ao meu país”, disse.
Segundo a médica, a prioridade agora é
conseguir permissão permanente para ficar no Brasil ou nos Estados
Unidos. Ela também quer fazer o exame do Revalida, prova necessária para
que médicos formados no exterior se formem no Brasil. “Quero trabalhar
para ganhar a vida. Se eu voltar a Cuba vou ser presa. Prisão perpétua
talvez. Por falar demais”.
(verdadegospel.com)
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