Pacientes com hemofilia estão enfrentando desde novembro racionamento de
produtos essenciais para a sobrevivência, os hemoderivados, em oito Estados.
A recomendação é de que a quantidade suficiente para o controle seja entregue
mensalmente. Por razões que o Ministério da Saúde não informou, os frascos
dos derivados de sangue têm sido entregues em quantidade insuficiente,
obrigando pacientes a reduzir a dosagem e a se deslocar várias vezes no mês
para obter uma quantidade mínima do produto.
"É uma tortura. Minha vida depende de hemoderivados. Já imaginou ir
dormir sem saber se vou ter o suficiente para me tratar no dia seguinte? Se
vou receber o produto ou não?", afirmou Venicios Sandy de Barros, de 31
anos, que tem hemofilia A grave. Com as falhas na entrega do medicamento, ele
foi obrigado a reduzir a dose do tratamento.
"Ninguém fura a veia para aplicar o produto por gostar. O que mais
angustia é olhar para a geladeira onde guardo o remédio e ver que ela está
vazia, que posso ter um acidente e sangrar sem que o remédio esteja
disponível." Ele recebe mensalmente 12 frascos do hemoderivado. Há dois
meses, a quantia foi reduzida à metade.
A hemofilia é uma doença congênita. Pacientes com o problema têm deficiência
nas proteínas que atuam na coagulação do sangue. Aqueles com hemofilia A têm
deficiência no fator VIII. Já os com hemofilia B, a deficiência ocorre no
fator IX. Em razão da doença, os pacientes apresentam sangramentos, muitas vezes
espontâneos.
Hemoderivados, que antes eram usados apenas para conter as crises, agora
também são considerados como prevenção. Pacientes são medicados com o
derivado não só para tratar, mas para evitar que a crise aconteça. "A
qualidade de vida melhora de forma significativa", contou Barros.
Agora, com o racionamento, as dores voltaram e as hemorragias, também. A mais
recente, no ombro, aconteceu justamente quando ele havia ido ao centro, para
conseguir mais frascos do derivado de sangue. Morador da cidade mineira
Barbacena, precisa ir até Juiz de Fora para obter o produto. "As viagens
para mim são desgastantes. Quanto mais vezes tenho de ir, mais risco eu
corro."
Mariana Batazza Freire, vice-presidente da Federação Brasileira de Hemofilia,
afirma que o problema se repete no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina,
São Paulo, Rio, Ceará e Paraíba. "Houve uma redução significativa da
distribuição feita pelo Ministério da Saúde. Com isso, os estoques dos
Estados, que eram de dois, três meses, acabaram. E sem estoques o
racionamento piorou."
Mariana contou que a federação já alertou o ministério sobre o drama
enfrentado pelos pacientes. A resposta recebida foi que o problema seria
solucionado neste mês. "As informações prestadas foram
insuficientes."
Sem falta
Em nota, o Ministério da Saúde limitou-se a afirmar não haver falta do
medicamento. E que os estoques estariam sendo regularizados a partir deste
mês. A pasta não informou as razões da redução da distribuição, tampouco as
medidas que eventualmente tenham sido adotadas para evitar que o problema se
repita.
O Estado de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário